terça-feira, 17 de março de 2009

Será que vamos nos tornar insensíveis?


É impossível ser neutro diante das terríveis notícias estampadas todos os dias nas capas dos jornais impressos, nas revistas semanais, nos jornalismos das TV’s, nas rádios e na internet. Eu nem vou me dar ao trabalho de listar os últimos acontecimentos, mas me pergunto se vamos nos tornar seres humanos frios, já que uma hora ou outra estaremos tão acostumados às tragédias que seremos como Marsault, de “O Estrangeiro” de Albert Camus, ou aos próprios jornalistas de veículos como O Povo, que querem mais é fazer o sangue escorrer das páginas dos jornais todos os dias. Que isso é uma técnica para vender jornal eu sei, mas como conseguem ser tão frios? E as pessoas que gostam de ler isso?
Marsault foi julgado e condenado à morte por não chorar no enterro da mãe, mas isso era em outra época e outra sociedade.

E aí entram várias discussões, por exemplo, a pena de morte.

Sou totalmente contrária à pena de morte no Brasil, digo isso porque como podemos julgar um bandido que veio do morro, não teve educação, não teve cultura, não teve amor e apoio da família, não teve direito à saúde digna, e por aí vai. Que noção de certo ou errado uma pessoa dessas tem? Não precisa queimar todos os neurônios para responder que não é nenhuma, noção zero.

Um exemplo fictício sobre o tema é o filme "O Leitor", que rendeu à Kate Winslet o Oscar de Melhor Atriz. No filme, Hanna, personagem de Kate, não sabe ler e por causa da sua ignorância, orgulho e vergonha, aceita emprego numa organização nazista e participa da morte de milhares de judias. Sem ter noção do que está fazendo ou da gravidade do mesmo acaba incriminada e condenada a prisão perpétua. O interessante é que ela aprende a ler na prisão e já idosa diz que não importa o que tenha aprendido com os crimes nazistas porque não vai alterar o passado, os mortos já estão enterrados. Ou seja, só depois que aprendeu a ler é que teve consciência do que fez no passado. No final ela usa os livros que adquiriu na cadeia como degraus para se enforcar. Engraçado né? Os mesmos livros que a levaram ao conhecimento e à razão a levaram à morte.

Um professor da minha faculdade disse uma vez: ”o que é mais temido pelo Sistema Político: um garoto subindo a favela com um livro debaixo do braço ou com uma arma em punho?” É certo que é o que porta o livro.

A situação é crítica porque aparentemente a vida no nosso país não vale nada. Crianças, adolescentes, pais e mães de família são mortos todos os dias vítimas de assalto, bala perdida, imprudência no trânsito e isso não nos deixa chocados, dá uma sensação ruim, mas que se esgota com a próxima notícia do jornal sobre o carnaval, o futebol, a moda na Europa...

A começar pela política, nada é levado à sério. Nós também nos acostumamos com as roubalheiras em Brasília e com as crianças nas ruas pedindo dinheiro, mas ao contrário do que pensamos essas coisas não são normais, são comuns, e isso faz uma grande diferença. Significa que essas coisas não são naturais da nossa sociedade, mas reflexo de que algo vai mal.

“Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial” Caetano Veloso

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