quarta-feira, 29 de abril de 2009

FEIRA

“É dia de feira, quarta-feira, sexta-feira, não importa a feira” O Rappa





Adoro feira.
Nos domingos da minha infância meu pai dizia depois do café da manhã: “coloca a sua pior roupa, vamos à feira”, isso significava sair de casa usando uma bermudinha jeans surrada e uma camiseta bem velhinha. Minha mãe ficava pra morrer, mas eu subia no Jipe vermelho e eu e meu pai íamos embora para a Feira da Areia Branca.

Pra quem não sabe, fica em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Eu e o Dr. Alexandre, como era conhecido por todo mundo, mesmo com aquela bermuda velha e camiseta Hering branca furada (era o uniforme da feira), passávamos a manhã inteira comprando cacarecos e fazendo trocas na feira. Foi ali que eu aprendi a negociar uma venda, e olha que eu só tinha 5 anos.

Quando eu gostava de alguma coisa tinha que fazer cara de desdém, perguntar o preço sem interesse nenhum, como se aquilo não fizesse diferença. Exemplo: “Quanto custa essa boneca?” E se o cara respondesse “– 5 reais” eu tinha que dizer: “- 5 reais? Que isso...” e ir andando, como se fosse embora. Aí o vendedor mudava de ideia e começava a baixar o valor. “Tá bom, freguesa, pra você levar, heim?! 3 reais.” E eu retrucava “-3?” Muito caro! Essa boneca ta velha, vou ter que limpar, trocar a roupa... Dou 2 reais”.

Meu pai era tão bom nisso que às vezes o vendedor que ficava devendo, como se fosse um favor meu pai ter comprado dele.

Na feira a gente trocou muito videogame, lembro que quando enjoei do meu Atari meu pai me levou na Areia Branca e troquei pelo MegaDrive, com fita do SuperMario e do Sonic e mais dois controles.

Lá também vendia frutas, verduras, legumes e claro, caldo de cana e pastel!

Domingos de sol, com roupas surradas (minha mãe detestava quando a gente saía daquele jeito), na feira da Areia Branca... Isso já tem pelo menos 15 anos.

Hoje meu pai completa 58. Parabéns, pai!

Os: depois a gente descobriu que não era gente trocando coisas e vendendo o que não queria mais. Tinha coisa roubada no meio, então deixamos de ir lá.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Da mãe pra filha - 4 de fev. de 2007

Rai,
dez anos ou vinte e dois, não importa.
Se o seu estômago dói e vc. vomita.
Se bebeu tanto que a janela não para quieta,
a cama roda e vc não encontra a porta.
Tenho vontade de sair correndo pra te cuidar.
E fazer canjinha boa e forte, gelatina e massagem nos pés;
Cafuné. Prá te ver dormir e acordar boa.
Sentar e ficar vigiando: ao menor ressono ou resmungo, levanto.
Paninho gelado pra mandar embora a febre
antialérgico, antitérmico, antiemético... Tudo à mão.
Mão de uma mãe boba
Que briga com os deuses se vc. adoece
Que fala de vestido de noiva e fuga de moto
que te acha linda em todas as fotos
e lembra todos os dias da tua infância.
Mãe que ama duas vezes mais
aos domingos, em que não estás.

domingo, 19 de abril de 2009

Crônica - A Hipocondríaca

Sou hipocondríaca.
Faço experiências combinativas com meu corpo. Penso numa doença que gostaria de ter, meu corpo topa, assume os sintomas que eu leio para ele calmamente com o livro da Unimed nas mãos, depois fico nervosa e corro à caixa de remédios mais próxima para me automedicar.
Hoje pensei em alergias, meu corpo ficou cheio de brotoejas, tomei um Fernegan e estou aguardando os efeitos.
Meu corpo é meu parceiro. Somos cúmplices de testes humanos. O cérebro é o que mais gosta dessa história toda. Se diverte sendo exercitado e alimentando seus filhotes, os paradigmas.
Desde pequena adoro livros de medicina, cada doença nova que sai no Globo, na Folha, na BBC Brasil, procuro saber tudo para contar para o meu corpo e praticar junto. É como o Kama Sutra.
A gente não perde uma.

COZINHANDO


Quem gosta de cozinha sabe: se não está bem consigo, não cozinhe.

Hoje foi um dia desses, mas não o respeitei. A princípio estava tudo bem. Tomei café da manhã na Cafeteria Colombo, no Forte de Copacabana, passeei pelo calçadão e voltei para casa. O filme “Tudo sobre minha mãe”, do Almodovar, me aguardava ao lado do DVD, mas antes fui organizar algumas coisas pela casa, que está um pandemônio de bagunçada. Isso me tirou bastante o equilíbrio, é verdade.

O que importa é que o que deveria ser um banquete bacaninha de domingo virou uma experiência mal sucedida, uma gororoba! Descobri que abóbora e alcaparras não combinam, que pepino e azeitona não faz salada e que contra-filé, nem levando muita pancada, vira filé mignon. Por fim, uma coca-cola sem gás.

Poderia ser pior? O Roger disse que sim.

Para se cozinhar é necessário, antes de tudo, paz de espírito, liberdade na cozinha, limpeza, possibilidades, temperos, luz, visão, pretensão, imaginação e o mais importante: cobaias.

Cozinhar é arte, deveria ser a profissão mais bem paga do mundo porque o cozinheiro coloca em cada panela um pouco de sua alma, de seu ectoplasma, mistura com outros ingredientes e manda ver. Já reparou que uma mesma receita feita por diferentes pessoas adquire gostos também diferentes?

A comida é o que nos alimenta e o que nos faz, muitas vezes, comer rezando, de olhos fechados e apertados, quase lacrimejando. Algumas pessoas conseguem fazer comidas orgásmicas.

Ps: Minha amiga Carol, nutricionista formada, está vendendo o bolo “Doom”. Não sei o motivo do nome, mas ela é uma dessas pessoas cozinheiras incríveis. Quem quiser comprar fale comigo. Ah, é do gosto universal: de chocolate!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mau humor



O mau humor acordou comigo ontem de manhã, passei o dia convivendo com meu “eu” da “pá virada”. Parece que ele derrubou a balança onde moram os outros "eus" e ficaram todos meio perdidos nessa confusão.

Fiquei tão mau humorada que assustei os mais queridos. Distimia? Eu me perguntava a todo tempo, e fui me informar com o Dr. Google sobre essa doença. Diz aqui na página da internet, consultório móvel e conectado, disponível 24h por dia, que pode ser hereditário, diz também que mau humor crônico é doença e deve ser tratado. Será que é esse o meu caso?

O fato é que o mau humor e a impaciência seguiram comigo o dia todo, começava a conversar com as pessoas e me perguntava por que tanta exigência com eles. E daí se não leem jornal? E daí se não têm opinião pra tudo? Seria a errada eu, por ter opiniões de mais.

De qualquer forma, o mau humor com os outros não justifica nada.

Graças aos meus outros "eus", a balança já foi posta no lugar e quem está no comando agora são todos eles juntos, finalmente equilibrada de novo, mas só até que a balança caia novamente.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Coisas que só acontecem comigo


Ontem de manhã fui para a consulta com a otorrino. Eu estava marcada para 9h45; às 9h50 chamaram meu nome e o de um rapaz, que estava acompanhado da mãe. Como é uma clínica grande pensei que ele estava indo falar com outro médico, mas para a minha surpresa entrou na mesma sala que eu, a mãe dele também.

A Dra. Aline nos cumprimentou, apontou aonde cada um deveria sentar, virou-se pra mim e disse: “Fez os exames que pedi?”, mesmo achando aquilo estranho, porque nunca vi consulta em grupo, mostrei os resultados e conversamos sobre minha situação, mais uma vez esquisito, afinal tinha dois estranhos ouvindo. Terminada a minha consulta, a médica vira para o rapaz e a mãe dele e diz: - “agora vocês”.

Achando que estava sobrando, perguntei se eu estava liberada, ela disse que sim e eu fui embora com uma pulga atrás da orelha. Até então nunca tinha ido a uma consulta coletiva.

Já no ônibus, a caminho do trabalho, a Dra. Aline me liga no celular: - “Oi Raïssa, tudo bem? Olha, me desculpe. Você entrou junto com o menino para a consulta”, e eu disse que entrei porque a assistente chamou meu nome e me mandou entrar, mas eis que ela diz: - “Pois é, vocês dois têm o mesmo sobrenome, acharam que vocês dois eram irmãos. Você vem aqui sempre e sabe que não é assim, me desculpe de novo.”

Parece que a mãe do garoto, assim que eu saí, perguntou: “O que está acontecendo?”
Foi aí que a doutora entendeu que a gente não era da mesma família...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Era uma vez... (do meu baú - 2005)


Era uma vez uma menina que gostava de um menino, mas ele era metade homem metade cavalo. Sagitário! Ele, com muito medo de que ela não gostasse dele, porque ela era duas, gêmeos, fugiu para uma floresta cheia de caminhos tortuosos e sem luz. Fugiu por vinte anos. A menina, tadinha, se dividiu nas duas que era e correu o mundo todo em busca do seu amor. Enfrentou chuva de chumbo, terra de fogo, rinoceronte mau encarado e peixes-baleia. Foi aí que, numa tarde ensolarada, quando metade dela estava sentada na beira de um rio, ela viu um cavalo de longe pegando uma maçã na árvore.
Correu até ele para pedir que pegasse uma pra ela também e descobriu que era seu grande amor. Muito feliz, ela o agarrou, mas não sabia que ele havia sido enfeitiçado por uma bruxa cara-de-concha que disse que se ele encontrasse um amor verdadeiro seria petrificado, viraria pedra mesmo. A mocinha, sem saber disso, agarrou o cavalo e na mesma hora puft! ele virou pedra.
Dizem que até hoje, na beira daquele rio, existe uma menina pela metade que chora sentada na beira de um lago meio seco. Ninguém a vê, mas escutam seu choro. Ela descobriu que quando conseguir encher metade do rio de lágrimas seu amor voltará à vida. Desde então, ela não para de chorar, na esperança de ser feliz um dia.