sexta-feira, 25 de junho de 2010

Uma homenagem aos meus amigos

Loucos e Santos - Oscar Wilde
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. 
Para isso, só sendo louco. 
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. 
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. 
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 
Não quero amigos adultos nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice! 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 
Tenho amigos para saber quem eu sou. 
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.









sexta-feira, 18 de junho de 2010


Tem dias que acordo ansiosa, fumo 300 cigarros, tomo 200 litros de café e nada resolve. Nada tampa o buraco que parece querer engolir o mundo de uma só vez, claro que não cabe. E por isso eu sofro!


Na noite anterior esse buraco era tão grande que engoliu meu sono, deitei às 23h e às 3h ainda tentava pregar os olhos. Tentei de tudo: televisão com filme maleta, MSN, papo furado no telefone... Aliás, essa foi a parte boa! Um papo inteligente, engraçado e que valeu por algumas sessões de terapia. Acho até que meu interlocutor merece uma fatia do que gasto com a Dra. toda terça-feira...

Com o papo refleti que por mais que a gente pense que sabe de tudo, que entende tudo, que viveu quase tudo, não sabemos, não vimos, não vivemos, não temos razão nenhuma. Com vinte e poucos ou vinte e muitos é impossível saber por a+b como se relacionar. Por mais que você more sozinha há bastante tempo, por mais que tenha tido 300 namorados, por mais que tenha viajado o mundo. Com o número 2 à frente da sua idade, é simplesmente impossível. Por esse motivo, se hoje me perguntarem “o que você sabe sobre isso?” minha resposta vai ser “socratiana”: “só sei que nada sei”, ou seja, estou aprendendo.

Depois do papo resolvi desligar a TV, deitar a cabecinha no travesseiro, fechar os olhos e imaginar tudo o que eu gostaria de saber. Como me comportar com certas pessoas, como falar com segurança aquilo que me aperta o peito, como agir enfim. Fiz esse ritual e acabei tendo um belo dum pesadelo confuso. Resultado, não é sonhando que se aprende! É vivendo. Óóóó até parece que eu já não sabia...

terça-feira, 15 de junho de 2010

“Quer conversar?”




Sempre gostei de conhecer gente, e acho que faço disso um hobby. Não faço academia, não jogo poker, não faço natação, não sou viciada em TV, não sou adepta a maratona, nada toma mais o meu tempo do que conhecer gente.

Adoro sentar no banco do táxi e saber da vida e das histórias do taxista. Gosto de perguntar à faxineira como é sua vida, de saber da secretária como ela faz para chegar todos os dias no trabalho, se tem filhos, marido, primos. Sei tudo da vida da minha manicure e depiladora. E adoro conversar, não é à toa que comecei a falar antes de completar 1 ano de idade, e minha mãe conta que eu falava o dia inteiro com todo mundo. Vinte e poucos anos depois e nada mudou.

Viajando sozinha (Ah! Esse é meu hobby, colocar a mochila e ir – sozinha- ver o que é que a baiana, o uruguaio, o francês, o israelense e, em breve, o mundo tem). Exercito bastante esse lado “desbravador de gente”. Um dia, na praia de Tel Aviv, olhei pro lado e vi um cara também sozinho. Tinha certeza de que ele era francês e ele tinha uma carinha de gente boa. Não pensei duas vezes: “Do you wanna talk?”. Minutos depois eu e Enguerron estávamos melhores amigos. Almoçamos juntos, fumamos narguila no park, saímos pra night, nadamos de madrugada e foi uma das melhores companhias da minha viagem. Ontem ele me escreveu contando como foi a volta para Paris, disse que adorou me conhecer e que nunca vai esquecer da primeira coisa que eu disse pra ele, “quer conversar”?



E isso aconteceu durante toda a viagem de férias desse ano. Acabei fazendo amizade também com uma koreana, a Shorty, viajamos juntas para a Galileia, tivemos uma ótima troca de informações sobre a cultura de cada, sobre a vida, sobre os homens, sobre tudo! Ela voltou para a Korea, eu para o Brasil, mas a promessa de “nos vemos de novo” é reafirmada sempre através da internet.



E assim foi com outros vários amigos que fiz por lá. Um querido, o Junior, brasileiro que mora em Israel, e que conheci através de um outro querido, o Cláudio, barman de um bar/restaurante em Tel Aviv, me escreveu dizendo: “só faltou você na Parada Gay de Tel Aviv”. Outras duas amizades legais, o Moshe, australiano, na espera pelo voo Israel/Paris, e o Ricardo no voo Paris/Brasil. A conexão foi tanta que mudamos nossos assentos para vir juntos conversando, falamos quase 10h direto e ainda descolamos uma garrafa de champagne para comemorar o final das férias de cada um. Ele em Paris e Itália, eu em Paris e Israel. Tem coisa melhor do que esse intercâmbio?



Hoje estava saindo do consultório da minha terapeuta quando um cara puxou papo comigo no elevador. Eu tinha duas opções, ou ignorava ou sorria e conversava. Obvio, optei pela segunda. Nelson, ortodentista, casado, gente fina, apaixonado por Einstein.


Conhecer, no dicionário:
conhecer (ê) -  (latim cognosco, -ere)
1. Ter conhecimento de.
2. Ter noção de, saber.
3. Ter relações com.
4. Saber quem (alguém) é.
5. Estar convencido de.
6. Distinguir.
7. Ver.
8. Ter indícios certos.
9. Ter relações sexuais.
10. Tomar conhecimento.
11. Averiguar.
12. Ter perfeito conhecimento de si próprio, dos próprios méritos, do carácter! próprio.

Ok! Com isso chego a conclusão de que, antes de uma religião, de uma nacionalidade, existe um ser-humano, portanto, não importa se é palestino, judeu, preto, branco, prostituta, argentino, brasileiro, chinês. Antes disso tudo tem alguém, e esse alguém não deve (não pode!) ser classificado, odiado, xingado, nada disso, por ser parte do lugar onde nasceu ou das escolhas religiosas que fez. Antes disso tudo, e sou totalmente avessa ao ódio e à guerra, devemos questionar o outro, conhecer seus princípios, sua cultura e olhar isso tudo de fora, esquecendo também de onde viemos e nos tornarmos híbridos por um instante, só pelo prazer de desvendar alguém tão diferente de nós mesmos. Sem julgar, sem pré-conceitos.