quarta-feira, 28 de julho de 2010

O que fica dessa história louca, covarde, errada, injusta, incompreensível, absurda, e tantos outros adjetivos que podem expressar a tristeza da morte por atropelamento do filho da atriz Cissa Guimarães? Como disse um repórter, “todos nós somos culpados”! Assim como todos nós somos culpados pelas guerras, pelo Holocausto, pela fome e a miséria, pelo ódio entre as religiões e tudo de ruim que vem através das mãos do homem.


O defeito de cada um de nós é pensar pequeno, ao ponto de só enxergar à sua frente o próprio território minúsculo da sua vidinha, do seu trabalho, da sua família. É ver todos os dias milhares de crianças vendendo chiclete às 2h da manhã nas portas dos bares e achar normal. Achar bonitinho. É ver meninas dormindo pelas ruas e achar comum. E se alguém questiona a gente responde: “mas o que eu posso fazer?”.

Estamos acostumados a presenciar todo tipo de falha e não se mexer. Estamos acostumados com o horror, com os homicídios assustadores que todos os anos aparecem como um seriado repetido nas telas das TV’s. Vira piada, que é o primeiro passo para a banalização, papo de bar e depois cada um vai pra sua casa deitar a cabeça e contar carneirinhos.

Vão me perguntar, “ta bom, e o que podemos fazer?”. É simples, mais do que parece. Podemos reagir nas pequenas coisas, naquilo que nos cabe: sendo honestos. Não tentando levar vantagem em cima das coisas, não sucumbindo à corrupção, não importa se a medida do erro está em se vamos pagar 5 reais ou 10 mil para nos safar. Não é assim que deve ser, mas é assim que vemos acontecer. Os erros têm consequências, foi assim que aprendi. Errou, paga por isso como deve ser, responde à justiça; vai preso; paga multa; perde a carteira de motorista, leva umas “palmadinhas” na bunda (não vejo problema nisso), etc. As pessoas precisam entender que por mais que tenham dinheiro e poder não podem passar por cima das leis, de tudo e todos.

*Tudo isso porque vejo a sequência de erros: a prefeitura que não cuida do túnel da maneira que deveria, por isso ele é fechado (leia-se, limpeza e manutenção); a polícia que não está lá para proibir skatistas de trafegar no túnel; o atropelador que não presta socorro; a polícia que não faz seu trabalho (mais uma vez) e ainda age como bandidos; um pai que livra a cara do filho que agiu errado e que provavelmente não conhece limites, suborna a polícia, corre para consertar o carro para sumir com as evidências, etc.

quinta-feira, 22 de julho de 2010



Com o tempo eu aprendi a ser mais tolerante. Aprendi a dizer adeus a amigos e pessoas queridas porque a partir daquele momento eu (ou eles) seguiria em frente para o lado oposto. Com o tempo eu aprendi a dedicar algumas horas à simples tarefa da respiração: inspira, respira. Com o tempo eu aprendi a contar até três antes de explodir com alguém. E aprendi também que isso pode falhar. Portanto, aprendi a dar o “braço a torcer” e pedir desculpas.


Com o tempo eu aprendi que aquela preguiça que bate às 6h da manhã pode ser vencida, e que o alívio de ter levantado da cama e feito um exercício é muito gratificante! Com o tempo eu entendi que se alguém gosta de você, ela faz por onde. Entendi que não são os caras que te magoam que gostam de você. Quem gosta não faz isso. Com o tempo estou aprendendo a ser menos ansiosa, a simplesmente “relaxar e gozar” quando o relógio parece acelerar o “tic tac” e não dar a mínima para o meu stress.

Com o tempo estou entendendo como a vida tem sempre uma maneira engraçadinha de mostrar o óbvio, mas que por ser óbvio a gente quase nunca percebe. Com o tempo aprendi a ir atrás dos meus desejos, a brigar pelo meu espaço, a falar mais alto quando o mundo parece usar um megafone. Com o tempo entendi que se não for você a dar o primeiro passo, ninguém vai te carregar no colo. E entendi que se você não arrisca aquela viagem para o outro lado do mundo, o tempo vai passar, as obrigações e as responsabilidades vão aumentar, e você vai ficar se perguntando “e se eu tivesse ido?...”.

Com o tempo aprendi que se todos os meus planos forem por água abaixo, eu sairei dessa com mais bagagem, seja cultural, sexual, amorosa ou financeira. E aprendi que por mais que você mude para outro país, estado ou cidade, você sempre poderá voltar pra casa e matar as saudades. Com o tempo eu entendi que não podemos iludir ninguém dizendo que vamos ligar, vamos aparecer, vamos fazer isso ou aquilo se na verdade não temos vontade. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, então aprendi que devemos tratar as pessoas como passarinhos, deixando-as sempre livres para ir e vir quando quiserem.

Com o tempo eu aprendi que devemos tratar todas as pessoas sempre bem. Não importando se é o faxineiro da faculdade, o porteiro, a vendedora da loja ou o presidente. Todos merecem ouvir coisas educadas e receber atenção, por que não?

Com o tempo aprendi a observar a vida das pessoas na janela, e entendi que por mais que sejamos diferentes nos dados que constam na identidade, somos todos parecidos. É que no fim das contas não importa quanto é o limite do seu cartão de crédito, quantas roupas bacanas preenchem seu armário ou para quantos lugares bacanas já viajou. No final das contas, quando bate três da tarde de um domingo, o que importa mesmo é quem você se tornou com tudo que viveu até hoje. E mais, o que pretende fazer com isso daqui pra frente.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Coração educado



Meu coração é educado. Não é daqueles que faz alguém acreditar em mais do que ele pode doar, mas é tão garoto ainda esse pedaço de mim...

Por mais que tenha tombado, levantado e se curado, ainda não se tocou que não pode sair voando assim.

Meu coração educado tem vontade de se dar, mas não é sempre que abre a guarda, isso ele aprendeu. O problema é quando abre... Eu fico na porta dizendo, “volta aqui, malcriado!” Ele olha pra traz e diz, "deixe-me ir. Preciso ver qual é. Acho que é dessa vez!”. Eu olho desconfiada, já prevendo o fim... Mais tarde ele volta triste e reconhece que não foi daquela vez.

Mas não posso me queixar. Diante de tantos corações malcriados, corações que não têm vergonha do pecado que é prometer o que não vão dar, o meu coração está na frente. Ele sabe das suas capacidades, ele sabe o que quer.

É bem verdade que as vezes ele se embriaga, volta pra casa alegrinho, acreditando em tudo que lhe disseram, mas fazer o que? É tão sonhador meu coração. E de tanto sonho que lhe cabe, ele é feliz. É vermelho, é grande na medida certa e o melhor, sabe ser louco quando lhe convém. Sabe o momento exato de colocar o pé na porta e apontar aquele coração desvairado que lhe tirou a cor de tão malvado.

Meu coração educado não tem papas na língua, se deixa enganar, mas não é bobo. Só não gosta que lhe façam mal. Ele é do bem, e ele chora. Ele sangra e se demora para esquecer o último que o deixou, mas ele é tão animadinho que sabe como ninguém a hora de dizer, ok, deixa de sofrer! Vamos lá. Próxima parada!