domingo, 10 de outubro de 2010

Perceber a fragilidade de pessoas tão próximas, ex-gigantes que já foram donos de reinos detentores de poderes especiais, é o mesmo que acenar a bandeira confirmando que você pode assumir outro posto mais importante, o de porta-voz do reino, e com isso toda a responsabilidade e peso que vêm junto.

Não é pra qualquer um conseguir mediar guerras, colocar pesadelos pra correr e desarmar bombas. Tem que ter nervos de aço e saber o que fazer com a chave do armário que guarda a armadura. Tem que ficar ali, jogar no meio campo, equilibrar copos, engolir o choro, segurar a onda, mostrar que é forte e sê-lo de fato.

Quando existe gente que depende de você, da sua segurança, não dá pra bobear, não pode deixar a peteca cair. É como quando você é criancinha e adoece ou se machuca. Daí vem a mamãe, por mais nervosa que esteja, olha pra você e diz que vai sarar. Pronto! Você acredita, ela é autoridade perito no assunto dodoi.

Uma hora o jogo vira, e aí quem tem que dizer que vai sarar é você. E doi porque não parece fazer sentido, ainda que faça. Herois não devem adoecer, nem se machucar, mas não é bem assim. Meu pai sofreu um acidente de moto nesta semana. Corri pra casa e ao vê-lo, aquele cara que sempre foi o mais forte entre os mais fortes, seguro, agitado, robusto,e agora debilitado, com o pé ferrado e ralados pelo corpo, tive que me conter para poder confortar ao invés de pedir colo.

Naquele instante fui a pessoa mais adulta do grupo. Cuidei dele no médico, fiz comida,sobremesa, comprei remédios, dei dose extra de amor, carinho e atenção. Tudo aquilo de que precisamos quando adoecemos e que só alguém maior pode dar. Foi engraçado e estranho ao mesmo tempo ser a “dona da situação” e saber exatamente do que ele, meu pai, precisava. Voltei pra casa com a sensação boa de quem faz bem o que deve ser feito, e quando isso envolve fazer bem ao outro, não tem preço!

O bom é saber que na hora certa, os filhos pegam o bastão e sabem ser a cola que falta, o braço para dar apoio, a voz que dita o comando e o abraço que conforta.