sexta-feira, 31 de maio de 2013

Alguma vez durante a vida o chão sob nossos pés vai sumir. o ar vai faltar junto com o sentido das coisas. quem é essa me olhando no espelho? Esse é o nada, responderão. 
nada acontece, não se faz nada. não pisca. não come. 
não vive: sobrevive.
alguém gritou: estátua! e você obedeceu. 
por descontentamento, aos poucos você se mexe. primeiro o dedo mindinho do pé, e uma corrente sobe pelo corpo ao menor dos estímulos. O inconsciente comemora, é pouco, mas é movimento. 
o dedo ao lado, estimulado pelo companheiro, repete a ação e assim vai. o corpo inteiro ritmado e movido a sair da inércia. 
...
nada, nem mesmo a dor, a raiva, aquela mágoa de uma briga nonsense, e nem mesmo o nada, dura por muito tempo. 



terça-feira, 8 de janeiro de 2013




"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem" -Guimarães Rosa-


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


Quando eu era pequena e fazia uma coisa chata minha mãe logo alertava: “Raïssa, isso é muito feio. Isso é chato. Isso é horrível. Minha filha, ninguém gosta de gente assim. Raïssa, você não pode fazer cara feia na mesa quando alguém come algo que não te agrada. Filha, isso é falta de educação!!!”. Eu ficava irritava, achava minha mãe uma mala.

Vinte e alguns anos depois eu agradeço por ter tido pais que não batiam palmas para tudo que eu fazia. Nada pior do que pessoas com a autoestima tão elevada que não sabem enxergar a si próprios.  Seus erros e desacertos. Suas esquisitices, manias e feiúras.

Hoje todo mundo se acha, e na boa, estamos todos dentro do mesmo saco. Por isso, em 2013 eu desejo que todo mundo seja um pouco menos: menos arrogante, menos fútil, menos fresco, menos bobo, menos burro, menos irritado, menos ocupado, menos mal-educado, menos amargo, menos fofoqueiro.  O ditado popular já dizia: “menos é mais”...


domingo, 12 de junho de 2011

Uma conversinha com o síndico!


Aqui com meus botões, neuras e pensamentos, me dei conta do seguinte: já está mais que na hora de chamar o síndico! E quem mais seria se não o Amor?! Claro que por trás de todas as nossas paranoias só poderia estar Ele, o sentimento que nos impulsiona ou atrasa.


Depois que me toquei disso, bati lá na porta do quartinho do zelador, pedi a chave da casa do Amor e fui ter uma conversinha gentil, sincera e esclarecedora. Comecei perguntando por que é que desejamos tanto que ele esteja nas nossas vidas e quando, finalmente, Santo Antônio ajuda, o que antes era uma promessa de romance de tela de cinema, vira angústia e insegurança.

Antes mesmo que ele pudesse responder, perguntei se algum sobrevivente de tantos altos e baixos, tantas paixões e desamores, finalmente conseguiu entender o” X” da questão e ser feliz para sempre. Ou isso seria apenas marketing cinematográfico, algo como “vamos instaurar uma utopia para que as pessoas não deixem de buscar a felicidade, sabendo nós que ela não existe”?

Quando o Amor pensou que eu estava surtando, ele me olhava de um jeito esquisito, resolvi parar e escutar. Ou isso ou com certeza ele chamaria a segurança. “Bom, vamos lá.”, ele disse e continuou: “Em primeiro lugar quem começa essa história toda é a Paixão, uma moça brincalhona e instável. Eu apareço depois, pra checar o estrago e tentar apaziguar, tentar mostrar coisinhas que não estão nas receitas que o Cinema, um dos meus inimigos mais poderosos, mostra para milhões e milhões de pessoas há anos.”

E ele continuou: “Gostar de alguém deveria dar menos trabalho, entende, Raïssa? Mas as mulheres modernas complicaram muito as coisas, vocês me dão uma trabalheira danada! Eu desconfio que o Ponto G de vocês esteja na cabeça, qualquer dia marcarei uma reunião com a Genética para ela me explicar e dizer se tenho ou não razão. É que vocês precisam racionalizar tudo, e para piorar, depois que a modernidade veio com toda a sua força, eu ganhei outro inimigo, o Joguinho, você o conhece bem.”

Ele pulsava com toda a sua força (o Amor é todo feito de coração), e falava sem parar: “Agora veja, antes eu só tinha que checar a quantas andava a Paixão, agora preciso reparar o que muitas vezes é irreparável. As mulheres se acham donas do mundo! Se acham as mais espertas e andam pra cima e pra baixo com o Joguinho. Os homens ficaram sem saber o que fazer, além disso, vocês exigem que eles andem de acordo com o script criado por vocês, herança do Cinema. E na maioria das vezes o rapaz não imagina que deveria representar um papel. Agora veja, os meus agentes “frio na barriga”, “mão suando”, “pernas tremendo”, “ansiedade”, “saudade”, “respeito”, “carinho”, “tesão” e “admiração” estão aí para provar que nem tudo é lógico e racional. Continuo fazendo o meu trabalho, muito mais difícil nesses novos tempos que inventaram, mas posso lhe assegurar que, sim, há sobreviventes! Relaxe, coloque um sorriso nesse rosto, com ele você consegue qualquer coisa, e vá se divertir com a Paixão. Vocês vão se dar bem! Só me faça um favor, se o Joguinho aparecer mande-o catar coquinho! Menospreze-o! Diga sempre para o outro aquilo que você sente, é melhor perder sendo você mesma do que nem tentar.”

Depois dessa eu não tinha argumentos, dei um beijo de agradecimento, perguntei o número do apartamento da Paixão e fui chamá-la para dar uma voltinha por aí!

sexta-feira, 10 de junho de 2011




Engula a saudade, a vontade e o desejo. Preencha o tempo que estava reservado para o romance com uma ida ao cinema, um vinho com as amigas ou, ainda, na frente da TV e uma bandeja de japonês. Finja que não tinha planos, que o programado nunca existiu, e vai ver não existiu mesmo. Conta para o espelho tudo aquilo que você gostaria de dizer pra ele: as banalidades da semana; o stress do trabalho; a amiga que veio de longe e a fez tomar um porre em plena quinta-feira; a ansiedade para começar no trabalho novo. Então, mais uma vez, engula a saudade, a vontade e o desejo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

...




É isso, não tem fórmula pra gente gostar de alguém. Podemos até estabelecer critérios do tipo: tem que ser culto; gostar de viajar; falar duas línguas, no mínimo; gostar de sexo, de cinema, de bebidas alcoólicas e comida japonesa. Não pode ser da área de exatas, a não ser que dentro dele more um louco filósofo. Tem que ter objetivos na vida, pulso forte e saber o momento exato de agarrar a gente pela cintura e dar um beijo “cala a boca”. 

Ok, ok, ok! Nada disso é determinante. São apenas itens de uma listinha desejável, mas, cá pra nós, conseguir reunir em um só cara tudo que gostamos é impossível.

E aí você conhece alguém que chega perto do ideal, e aí que o beijo encaixa, e aí que o papo é ótimo, e aí que ele te acalma, e aí que ele te diverte, tem pegada, é gostoso e inteligente. E aí que você acha que está fazendo tudo da maneira como deveria ser. De repente, vem o seu segundo "eu" e cochicha no seu ouvido que não vai dar certo.

O primeiro "eu", aquele atraído por esse cara que parece ser tudo-de-bom, começa a desconfiar também. Pensa se vai ser legal andar de mãos dadas por aí, na frente de amigos e desconhecidos. Pensa que com o tempo o sexo vai ficar monótono, pensa que já vai ter decifrado o cara. E aí, cadê o vento no rosto? 

O segundo "eu", aquele desconfiado, fica arrependido por ter lançado a dúvida. Eis que surge um terceiro – e quantos são os “eus” que nos habitam?, e sugere que a gente está apenas cansada das inúmeras responsabilidades: casa, trabalho, você mesma, a família... e a dúvida é do inconsciente se acostumando com a ideia de que terá mais um com quem se preocupar. 

Só que você passa por toda essa discussão interna, crente, crente que “agora sim eu vivi um grande amor...”  e não dá em nada.  Então chega a hora de uma reunião com todos os "eus" e também com o inconsciente e consciente para discutir o que diabos nós fizemos de errado, ou certo demais. Ninguém gosta do que é certo demais.

Então fica decidido que na próxima vamos fazer tudo ao contrário. Quem sabe, de cabeça pra baixo, sem muito melindre, a coisa funcione?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor." Caio Fernando Abreu