segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vamos?



Uma confusão de sentimentos se misturam ao vácuo. Ideias, milhares, vão se embolando e pedindo peloamordedeus para serem realizadas, pertubam meu sono e puxam meu pé durante a noite. Sonhos vêm me acordar e pedem que eu abra os olhos e os faça reais.

Inconstância, nervosismo, ansiedade, tudo junto, vão me tomando. A criatividade impera. Levanto da cama e começo a organizar gavetas e a desempacotar o que há muito agoniza lá dentro. Levanto como um operário, não mais um artista, e começo a montar as máquinas que sem movimento enferrujam.

Pego no sono e acordo achando viver dentro de um pesadelo disfarçado do que chamam de “vida normal”, aquilo que os loucos chamam de rotina. A minha consciência grita: Tem muito, mas muito mais lá fora. 

E não é que tem?

Levanto e calço minhas sapatilhas de bailarina alucinada, lavo o rosto e encaro a janela, os pássaros e o Cristo de braços abertos na montanha que se insinua no topo da cidade.

Vou pra rua. Encontro bocas, frases soltas, pés, movimentos iguais. Cadê o que eu gosto? Línguas que não entendo, esquinas por onde nunca passei, encontros casuais que me fazem mudar de calçada e coisas que ainda desconheço.

Não sei, mas temo quando meus olhos nao avistam novidades. A ansiedade por deixar fluir as ideias loucas, ou não, que me passam pela cabeça é tanta que, quando me vejo, estou prestes a entrar na conversa de um grupo gringo exaltado. Só pelo prazer de gastar a língua estrangeira e de, sei lá, me sentir compreendida. Quem sabe?

Ninguém sabe de nada, não mais que os sonhos que me acordam na madrugada. Não mais que eu mesma quando estou sozinha num lugar desconhecido ou mesmo prestes a ganhar asas dentro de um avião.

E os sentimentos vão se amontoando, produzidos por um maquinário incrível impulsionado por filmes, lembranças e desejos. E me pego vivendo enredos de uma história dirigida por mim mesma: medos e barreiras que transponho, e a coragem de se largar e curtir a brisa de vez em quando. E no primeiro aviso da aterrissagem, porque a gente sempre toca o chão de novo, pego o tênis e a corrida continua.

Se estou querendo escapar? Talvez. Querendo fugir de mim? Às vezes. Mas, principalmente, das correntes que embalam as caixas guardadas nas minhas gavetas. Na etiqueta o mesmo aviso de sempre: “Desembrulhe!”

Peguei um vaso com uma planta no lixo. Na verdade um galho seco. 

Não sei por que, mas o achei tão bonito. Confesso que, em momento algum, tive a pretensão de fazer florir qualquer coisa viva que ainda estivesse ali. Não fosse a diarista, o galho nunca teria conhecido o sabor da água.

E eu continuava a olhar e a esperar sabe-se lá o que, contrariando todas as pessoas que diziam para eu me desfazer “daquilo”. "É uma planta morta", eles diziam, mas eu via um galho bonito. Pensei em comprar borboletas e fazê-las ficarem dependuras em cada ramo.

Dizem que se compram sonhos, mas näo encontrei quem vendesse borboletas!

Chegou o Natal e pensei em fazer uma árvore bacana com bolas coloridas, algodão e anjinhos. Não o fiz. Passaram as festas e o galho jazia na sala com as raízes cada vez mais cinzas e sem forças.

Chegou o verão, e como as estaçoes passam depressa, segui acreditando que talvez na primavera... mas como é demais esperar as coisas de alguém, amanhã vou levar o vaso e seu galho bonito lá pra baixo e, agora sim, esperar que alguém o pegue. Afinal, eu não achei onde comprar as borboletas e nem elas se atreveram a pousar aqui.

Então, quem passar pela minha calçada amanhã verá só uma planta que já morreu e esqueceram de enterrar. Ou, quem sabe, pense diferente.