terça-feira, 16 de junho de 2009

MEDO




Já tive discussões com a minha mãe por dizer que ela é medrosa; o que não condiz com as histórias que minha avó conta de quando mamãe era adolescente. Pelo que sei, Anamaria viajava de carona para Guarapari, Ilha Grande e outros lugares – o céu era o limite para os acampamentos e viagens com os amigos hippies por aí. Ela vivia na garupa de motos, pegando estradas e barcos, sumia às vezes por semanas a fio.

Hoje o cenário é outro, minha mãe se afoga no chuveiro, e se apresso para que ela ande mais rápido reclama que o coração está a ponto de explodir. Se discutimos e alguém se exalta, ela termina com um copo d’água com açúcar nas mãos. Se proponho um voo de asa delta ela senta, me olha com aqueles olhos grandes e diz que só pode ser brincadeira. Subir em moto, nem pensar!

E o álcool? Já vi inúmeras fotos da minha mãe adolescente pelos bares da vida, mas hoje ela não bebe mais que duas tulipas e já fica mal das pernas. Mamãe não tem nem 50, mas tem três filhos, ou seja, três responsabilidades muito grandes.

Só entendi essa mudança da aventura pelas coisas mais certas depois que ela disse uma coisinha básica, a qual eu nunca havia pensado: “Minha filha, quando você for mãe vai entender que o medo da gente morrer é por causa do filho. Tenho medo de que algo me aconteça e eu não esteja aqui por vocês.”

Entendi!

De qualquer forma, quando ficamos mais velhos o medo cresce junto com a gente, pois paulatinamente entendemos e conhecemos os tipos de perigo.

Confesso que aos 18 anos eu pularia mole de paraquedas, talvez ainda pule, mas o medo é aterrorizante! Asa delta, viagens sozinha, tudo isso aos 24 já me dá medo e eu nem tenho filhos.

É verdade que aos 20 quando fui sozinha para o Uruguai, sem falar espanhol ou inglês fluentes, eu não lia tanto jornal, não dava tanta atenção para as crueldades que acontecem todos os dias nas esquinas das nossas casas. Eu não tinha medo!

O problema da violência é que ela cerceia a nossa liberdade, por mais que a gente finja que nada está acontecendo, com o que a própria arquitetura da cidade mudou. Os prédios são cercados por grades, tem arames no sobrado dos prédios baixos, alarmes, etc.

O pior disso tudo é que eu já fui mais confiante de que as coisas poderiam mudar, porém hoje olho para as favelas que cercam a cidade, a quantidade de gente envolvida em trabalho informal porque não tem oportunidade e, sinceramente, não acredito que o Brasil tem solução.

Minha visão é das mais pessimistas em relação ao futuro da nossa segurança, o brasileiro não tem autoestima. A polícia e a política são duas drogas! O povo despolitizado, a mídia desinteressada com o que é verdade, um circo completo com sérias consequências.

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