terça-feira, 23 de março de 2010



Quem é essa estranha que me olhou no espelho às seis da manhã? Vestiu uma roupa em mim que eu não sabia que tinha. Prendeu o cabelo de um jeito que revelava as orelhas de abano. Comeu pão com polenguinho, e fizera desse café - da - manhã um hábito por duas semanas. A menina de olhos bonitos, cor de mel, voz rouca e intensa nos pensamentos, mas confusa na fala, se apresentara a mim como eu mesma.

“-Quem é você?” Perguntei dois dias depois de muita confusão entre a gente e aproveitei para recuperar meu espaço: “Eu gosto de yogurte de manhã, de preferência com sucrilhos ou pode ser banana amassada com linhaça e mel. Suco de soja, por favor!” Implorei por esse desejo, mas fui NEGADA!

Ela leu meus pensamentos durante um tempo, conversou com meus amigos, foi grossa com gente mal-educada e mostrou um lado B do meu lado A. Essa moça revelou umas coisinhas, brigou com gente que não devia e na hora de se defender me deixou na pista: cara de boba e nenhum argumento que justificasse suas atitudes.

Não foi fácil, mas quando já estava me acostumando ela foi embora e me deixou com uma outra, trazida pelo vento que vem lá da Zona Oeste, uma menina boba e apaixonada que não entende muito da vida e na hora de falar se cala. Sei que não vai ficar muito tempo, mas espero que seja substituída por outra logo, mais madura e mais esperta. Se bem que a displicência e impetuosidade dela me animam. Ela “gosto” de usar blusa sem sutiã. Gosto de pensar menos e ler poesias bem alto, quase recitando para o vizinho do apartamento de baixo. Adoro dançar freneticamente no meio da sala ao som de Leoni.

O dia azul lá fora, a altura que não me apavora e meu coração à beira do precipício: abobalhado, mas feliz. Ela me deixa feliz, esse meu eu. Essa “minha menina minha” que está à espreita de me fazer entender outros eus que fazem parte do meu todo. A outra está ali no canto, observando se faço bom uso de seus ensinamentos. Disparo a enlouquecer de tanto aprendizado quase que instantâneo de vida comigo mesma. Acordei outro dia, era outro eu, respondi: Bom Dia!

2 comentários:

  1. Talvez você tenha a mesma insatisfação crônica que a personagem da Penélope Cruz diz ter em "Vicky, Cristina, Barcelona." Acho que é exatamente o que eu tenho e sendo sincero, acho muito bom ser assim.

    ResponderExcluir
  2. Será? Eu vi o filme, adoro, por sinal. Mas a Penelope é maluca de pedra nesse personagem...rs

    ResponderExcluir