quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O meu amor



Depois de quase cinco anos de faculdade, de bar em bar, nights até de manhã, Baronetti (é, eu frequentava aquele lugar), blocos de carnaval, sonecas no ônibus depois de pular e misturar vodka com tequila com cachaça e com cerveja, tomar glicose no Rocha Maia, paquerar o médico, tomar mais glicose, uns trezentos e setenta mil porres, e muita diversão, encerrei minha carreira de farra desordenada com as amigas e eventuais procuras amorosas.

Acabaram-se as inseguranças, acabaram-se as noites sozinha, em frente à TV na companhia dos filmes do Woody Allen, uma lata de batata Pringles e uma garrafa de 600ml de Coca Cola não light, nem zero.

Acabaram o chororô, os feriados e fins de semana sem companhia, embora eu continue curtindo ir ao cinema sozinha, e os pedidos aos deuses e simpatias desesperadas para arrumar namorado.

Foram-se embora os ficantes, as longas esperas ao lado do telefone na certeza de que a promessa “Te ligo amanhã” feita na madrugada anterior na boate era verdade. Acabou a inveja de quem tinha namorado para jantar junto no dia 12 de junho, mesmo achando a data uma palhaçada comercial. Acabaram os “joguinhos”.

Acabaram as inseguranças e os quilos a mais, agora gastos com amor frequente. Acabou o consumo desenfreado de chocolate em todas as suas formas e a calcinha rosa debaixo da roupa branca no dia 31 de dezembro para atrair o amor. Ele finalmente chegou.

Chega de achar nojento chamar alguém de “meu amor”, agora eu sou do grupo das melosas que dizem “eu te amo”, mas continuo achando péssimo aquela mania dos apaixonados de falar com o outro que nem bebê.

Agora moro junto, não dá mais pra acordar antes do outro e correr para o banheiro para pentear o cabelo, passar corretivo, escovar os dentes e voltar pra cama para fingir que está dormindo para depois acordar toda bela, que nem artista de cinema. A rotina acaba com essas frescuras e pode ser bem interessante descobrir certas coisas sobre o outro: a intimidade da família, a cueca furada, a mania estranha, a tia fofoqueira, as preferências, os defeitos, as chatices, tudo desculpado, porque com a intimidade, quando se gosta mesmo, o amor aumenta.

A gente começa a perceber que é essencial manter o hábito da conversa e dizer sempre aquilo que incomoda. A gente começa a sair com outros casais e a fazer programas bobos juntos, como passar uma sexta-feira à noite bebendo vinho e jogando videogame ou um fim de semana com ele e os sogros jogando buraco.

A gente quer novidade e arrisca em quadriciclo, viagem para a Ilha, sex shop, bicho de estimação e fica ansioso pelas inúmeras possibilidades.

Afinal, não é isso que a vida é, um mar de possibilidades?

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